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Mesmo com a falta de incentivo no Brasil, 45% dos produtos oriundos da agricultura familiar são plantados e colhidos por mulheres.

O protagonismo da mulher agricultora

Após muitos anos dedicadas somente à criação dos filhos e às tarefas domésticas, a mulher garante protagonismo nas lutas de empoderamento e dentro dos empreendimentos agropecuários. As mulheres do campo têm importante papel na agricultura familiar e são responsáveis, em grande parte, pela produção destinada ao autoconsumo familiar e pelas práticas agroecológicas e de reprodução de sementes crioulas, garantindo qualidade de vida na família e na sociedade. São mais de 14 milhões de mulheres no meio rural no Brasil, representando 48% da população dessas áreas.

Segundos os últimos dados divulgados pelo IBGE, em 2000, as mulheres chefiavam 24,9% dos 44,8 milhões de domicílios particulares (no campo e na cidade). Em 2010, essa proporção cresceu para 38,7% dos 57,3 milhões de domicílios. Um aumento de 13,7 pontos percentuais. Isso demonstra o indício da liderança tomada pelo público feminino, ocupando um lugar que por muito tempo foi predominante masculino.

 

Em Ijuí, no distrito Santana, a empreendedora Lidia Megier é destaque quando se trata de autonomia feminina no meio rural. A produtora conquistou nesse ano o Prêmio SEBRAE Mulher de Negócios RS, que reconhece o trabalho realizado por Lidia e sua família com o plantio de frutas e legumes.

Lidia conta que o preconceito sempre existiu, os comentários das pessoas que não conhecem a base do trabalho e da agricultura familiar causam desgosto, mas não a desanimam.

 

Não me importo com o que falam, estou fazendo minha parte e graças a Deus nosso trabalho está dando certo. É difícil trabalhar com hortifruti, com essas grandes chuvas recentes complica ainda mais, mas temos que ter paciência com o trabalho. Temos que nos virar como dá. - Lidia Megier

A mulher que ser respeitada, em todos os lugares. Não quer ouvir piada sem graça a respeito de gênero, não quer ser menosprezada e nem quer ser submissa. - Fernanda Calai 

A questão da igualdade de gênero é alvo de debate em vários ambientes profissionais. As mulheres se impõem cada vez também no âmbito rural, onde impera a ideia de que a agricultura é para homens e a aceitação da mulher nesse trabalho gera resistência. Mas os dados mostram a importância e a expressão da mulher nesse meio. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, cerca de 45% dos produtos oriundos da agricultura familiar são plantados e colhidos por mulheres.

Para a engenheira agrônoma e autônoma Fernanda Andressa Calai, de Giruá, é um absurdo a mulher ainda sofrer com a diferença salarial. Fernanda avalia que trabalhar no meio rural é muito mais que exercer uma profissão, é um estilo de vida. “Suja-se o carro porque trafega em estradas de chão, é estar sempre ligado na previsão do tempo e vendo botas, luvas e chapéu, é importante usar o filtro solar e o repelente… É observar, é estudar, é quantificar, é empreender, é ajudar, é produzir, é vender. É uma profissão raiz. Que as mulheres tenham coragem de enfrentar as barreiras e se colocarem no meio que almejam estar”, ressalta.

 

Fernanda lamenta que a realidade da mulher no campo ainda não seja a ideal, mas garante que com luta e união a mão de obra feminina pode conquistar seu ”lugar ao sol”. No Brasil, as mulheres são responsáveis, em grande parte, pela produção destinada ao autoconsumo familiar e pelas práticas agroecológicas. Esse trabalho garante a qualidade de vida na família e na sociedade e manejo ambiental adequado às unidades de produção familiares. A agrônoma Fernanda Calai comenta que “trabalhar com a agricultura é interferir no ambiente, é transformação e isso é mágico, é apaixonante. A agricultura é, sem dúvida, uma das atividades mais importantes desenvolvidas pelo ser humano”.

 

De acordo com o presidente do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Ijuí, Carlos Karlinsky, a porcentagem de mulheres no trabalho rural e na economia é cerca de 50%, já que, os homens ocupam os outros 50 % e ambos desenvolvem às mesmas atividades na agricultura familiar. “Criamos na década de 80 a possibilidade de a mulher participar no sindicato, proporcionando os benefícios da anuidade”.  Karlinsky destaca que a mulher paga 50% do valor, e que esta iniciativa é uma maneira de inserir a mulher na política, podendo participar das assembleias, reuniões, votar e ser votada. O sindicato atende também os municípios de Bozano e Coronel Barros, os quais tem cadastros de famílias contribuintes.

Mesmo com esta facilidade a favor da mulher, ainda não são todas que estão cadastradas e sindicalizadas, o que dificulta o processo de inserção no meio das decisões que são realizadas em prol da agricultura familiar, onde a mulher tem um papel importante, e vem se destacando conforme as oportunidades. Karlinsky enfatiza a importância da contribuição e a indispensável atuação da mulher na agricultura familiar, já que assegura a aposentadoria, um dos primeiros benefícios a ser recebido por uma mulher do campo. “Nosso papel como sindicato é reivindicar políticas públicas como, por exemplo, o Pronaf mulher que disponibiliza crédito para atender as necessidades da mulher produtora rural”, destaca. No entanto, mesmo com este projeto, ainda é pequeno o número de mulheres que têm acesso.

Karlinsky reafirma a importância da mulher na luta sindical a partir das conquistas que foram alcançadas e explica que os primeiros benefícios previdenciários foram concedidos aos homens, que a partir de 65 anos, tinham direito a receber meio salário mínimo, sendo que a mulher tinha o direito à aposentadoria somente se fosse a chefe da unidade familiar. “A correção que houve na mobilização das mulheres foi forte, e hoje temos esse reconhecimento de trabalhadora rural”, ressalta ainda, que mesmo após esses avanços, a porcentagem de mulheres trabalhando igualmente com os homens é um fator a ser analisado, já que, na maioria das produções os homens estão no comando.

Inclusive, outros direitos também foram conquistados a partir da luta das mulheres dentro dos sindicatos, como o acompanhamento na saúde e a ativa participação nas entidades. Segundo Karlinsky, as cotas foram mais uma tentativa de inserir a mulher agricultora no sindicato, mas garante que o objetivo é não precisar de cotas para que as mulheres tenham seu lugar. “No sindicato, a cota para as mulheres é de 30%, mas talvez chegue o dia em que não tenha mais necessidade e que as mulheres pela sua dedicação tenham seu trabalho reconhecido, atuando no segmento sindical, na política e na produção”, enfatiza.

Lidia, o marido e os filhos realizam entregas semanais de frutas e verduras

às escolas de Ijuí e região que são destinadas para a produção de merendas

Juntamente com seu marido Vanderlei e os filhos Fábio e Felipe, Lidia encarrega-se das mais diversas tarefas em sua propriedade, desde o plantio até a comercialização e salienta como é importante as mulheres terem liberdade para escolher a atividade que querem fazer. Para ela não importa se isso significa pegar na enxada, fazer a contabilidade ou vender o produto. Se a agricultora conhece a atividade e gosta do que faz, vai sentir-se feliz e realizada com a profissão. O fruto do trabalho garante a produção de beterraba, melancia, mandioca, repolho, batata-doce, melão, pepino, abóbora, cenoura e limão. São 7 mil fruteiras em 19 hectares. Os planos futuros são de aproveitar as novas tecnologias e dar início a uma agroindústria de suco.

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Reportagem e imagens: Laura Pimentel e Marjorie Bock

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), as mulheres representam 12,7% da propriedade da terra no Brasil, porém, tendem a receber 30% a menos do que os homens pelo mesmo por serviço. A diferença salarial aumenta na população mais instruída. Costumes e práticas culturais patriarcais que diminuem a importância social da mulher são os principais motivos para essa situação. No total, a diferença de remuneração entre homens e mulheres em 2015, ano com os dados mais recentes do indicador, era de 16%. O rendimento médio do homem era de R$ 2.905.91, e o pago às mulheres, de R$ 2.436,85.

Contradições no campo

Lidia fala com desenvoltura e confiança naquilo que acredita e acha que a educação é um elemento essencial aos jovens e agricultores. Por isso, quer que seus filhos continuem estudando e se especializando, pois só assim a atividade da família pode acompanhar a evolução na área e prosperar. Salienta ainda que o fato de estudar não significa afastar-se dos negócios da família, ao contrário, é um estímulo para a qualidade desse trabalho. “Tem pessoas que acham que no interior é de qualquer jeito, sem estudo e sem entendimento do que é feito, porém não é. Sempre estamos nos atualizando em palestras e cursos. Tem que entender sobre o assunto que trabalha, e com tantos anos na lida já sabemos o que é melhor para nossa produção. Pretendemos que eles continuem no campo mas sempre estudando”, comenta.

Presença da mulher sindical em Ijuí

Lidia exibe orgulhosa a premiação recebida do SEBRAE na categoria Produtora Rural

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