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Na contramão dos dados que indicam o êxodo dos jovens do campo, há os que optam por permanecer. No interior de Santa Rosa, Samara Friske, de 16 anos, é um exemplo.

"Aqui é o meu lugar"

A partir da década de 70, grande parte da população rural da região do Rio Grande do Sul passa a sair do campo para viver na cidade, uma realidade que hoje atinge mais a faixa etária jovem. De acordo com dados do Censo IBGE 2010, o Estado possui mais de 2,6 milhões de jovens. Destes, 336 mil vivem no campo, o que equivale a 12% de jovens rurais (entre 15 e 29 anos) em todo o Estado.

Segundo Lisete Maria Primaz, assistente técnica regional de bem-estar social da EMATER/RS ASCAR Regional Santa Rosa, nos 45 municípios de abrangência da empresa, na década de 70, a população rural superava os habitantes residentes na área urbana. Eram 317 mil habitantes da área rural para uma população urbana de 126 mil.

No entanto, em 2010  os dados se invertem. De acordo com o censo do IBGE daquele ano, a população rural na região registrava 138 mil habitantes e a população urbana passa a contar com 313,5 mil, dados que demonstram o esvaziamento do meio rural. A população geral da região reduziu, o que tende a ser demonstrativo de duas variáveis: redução da fertilidade em geral, com menos filhos por mulher, e o êxodo regional para outras regiões e estados.

Entre os principais motivos da busca por melhoria de vida nas áreas urbanas, algumas décadas atrás, estavam as más condições das estradas, que tornavam o transporte da produção e as idas e vindas das pessoas muito difícil, além da falta de acesso aos recursos tecnológicos, como a internet e telefonia, principalmente.

Samara, uma representante das jovens mulheres rurais, assim com muitos outros jovens do campo, tem a perspectiva de permanecer ou trabalhar com aquilo que a aproxima da realidade onde foi criada.

O acesso à internet, que antes era um problema, hoje reforça a ideia de permanecer no campo, já que se tornou mais viável e acessível. Além de entreter, conecta e informa, também auxiliando os moradores do campo em algumas atividades, como destaca Samara: “Nasci no meio rural, mas conectada, pelo menos 12h por dia. Além disso, o produtor rural também precisa da ferramenta para se informar sobre o tempo, sobre a cotação... E hoje é muito difícil uma propriedade sem internet”.

Apesar das diversas mudanças tecnológicas e incentivos, já passou pela cabeça de quase todo jovem que mora no interior sair do campo. Geralmente os motivos permeiam a desvalorização, como em épocas em que a safra não corresponde à expectativa e os jovens veem o sofrimento dos pais, desejando não passar mais por isso.

Samara relata que: “todas essas dificuldades, a falta de apoio e a má condição das estradas, dificultam muito o trabalho rural, porque precisamos escoar a produção e levar o leite para as indústrias. O produtor é deixado de lado sim, mas o que faz mesmo a gente querer ficar é a paixão, quem fica é porque tem amor, mesmo que tenha a dificuldade. Quem vive isso e ama onde e como vive, fica”.

Segundo Primaz, “o grande desafio é realmente inverter a pergunta e perceber porque o jovem permanece no meio rural, pois sempre se questiona porque eles saem”. Para a assistente técnica regional de bem-estar social da EMATER/RS ASCAR Regional Santa Rosa, “ é necessário realizar o caminho inverso de questionamento pois a ênfase na saída do campo contribui para a invisibilidade dos que ficam”.  

A escolha de Samara em permanecer certamente tem relação com sua vivência e com os exemplos na família. Todo o amor que sente pelos animais se manifesta desde que era muito pequena, o que é bem visto e lembrado pela irmã e sua mãe, que aprovam e incentivam as escolhas e projeto de vida dela. Confira no vídeo:

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"É um orgulho imenso ser uma representante dos jovens do meio rural, não me vejo fora do campo e, se penso sair, quero de alguma forma estar ligada à essa cultura, atuando na área de Medicina Veterinária. É isso que eu quero para a minha vida”.

A história de quem permanece

Mesmo frente à situação geral e os dados que dizem respeito ao êxodo rural, discutir a permanência do jovem no campo é de extrema importância e tema que traz à tona o orgulho pela tradição em paralelo às vivências do mundo urbano. Pois, mesmo em meio a tantas inovações tecnológicas, e ao que chamamos de era digital e da informação, existem sim jovens que prezam pelo campo,  querem fazer dele morada e gritam bem alto “Aqui é o meu lugar!”, se conectando, além das redes, também com a terra.

É o que acontece com Samara Nicole Friske, de 16 anos, moradora da Linha Federação, no interior de Santa Rosa/RS, que ajuda na produção leiteira e demais atividades de trato aos animais na propriedade da família. No vídeo, conheça a rotina de Samara:

Dificuldade? Tem. Amor? Tem em dobro

“Se Tem um jovem na propriedade, tem internet, mesmo que seja móvel”

Reportagem e imagens: Fabiane Madril
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